Um sujeito muito chato
O chato já nasce chato, isso todo mundo sabe. Não tem jeito
de esconder a chatice. Ela já vem estampada na cara.
O chato normalmente tira nota 7 ou 8 na escola. Isso para
o resto da vida. Depois ele continua tirando 7 ou 8 em
tudo mais.
A casa dele é mais ou menos boa, a mulher dele é mais
ou menos bacana, o trabalho dele é mais ou menos
bacana; ops! No trabalho que o chato começa a fazer
muita diferença.
Se você tem um vizinho chato dá até para aguentar.
É só ignorar e a coisa vai levando, mas se você
tem um colega de trabalho chato a coisa vai ficando difícil.
O chato é necessariamente persistente.
Não porque ele acredite que a persistência leva ao
desenvolvimento ou à perfeição. Ele é persistente por
medo da perda.
Ah, um chato é sempre meio medroso também. Ele tem
medo de perder o emprego, mas não tem medo de perder
um amigo. Um chato não sabe muito bem o que é ser amigo
de verdade.
Na hora em que o amigo precisa, ele sempre dá
um desculpinha e consegue se safar.
E o chato como colega de trabalho é uma coisa muito
perigosa, porque assim que ele puder ele irá passar
a perna nos mais bacanas.
O chato adora fingir que é amigo de gente bacana para
poder disfarçar a chatice, mas sempre que pode atropela
o colega.
Se o colega estiver distraído melhor ainda, porque um
chato raramente ataca pela frente. Ele sempre vai preferir
as costas ou a distância.
Ah, quando você tira férias ou vai viajar é o momento certo
para o chato derrubar quem ele mais inveja. O chato é
bem invejoso, é claro.
Talento é uma coisa que o chato não tem, nunca terá!
Mas sabe reconhecer e odeia a injustiça de algumas
pessoas terem nascido talentosas e ele ter só nascido chato.
A maior alegria do chato é mostrar que venceu na vida pela
persistência. Ele normalmente fica anos no mesmo emprego
e consegue grandes promoções. Não por talento, mas
por artifícios obscuros.
Quase sempre um chato é parente de alguém bacana que
indicou ele para a função onde ele vai ficar ainda mais chato.
O chato conhece bem a técnica de sua profissão.
Normalmente ele sabe tudo sobre a técnica, mas não
sabe colocar vida na técnica.
Enquanto o colega talentoso chega sem saber nada da
técnica e coloca vida no negócio em pouco tempo.
Um lugar não cresce quando o número de chatos é maior
do que número de talentosos, mas se o lugar já é grande
e forte os chatos são atraídos como moscas.
É claro que os chatos sabem passar facilmente nessas
entrevistas de RH, aliás quer gente mais chata do que
entrevistador de RH ?
O chato começa demonstrando poucas habilidades para a
coisa, mas ao mesmo tempo muito domínio da técnica.
Esse domínio da técnica, alguns confundem com
profissionalismo ou inteligência. Mas podem acreditar
que não tem nada a ver com nenhuma das duas coisas.
Um chato já vem para o mundo predestinado. Os pais dele
já colocam um nome bem comum e chato nele para que
ele não passe por nada especial.
Afinal ele só vai conseguir ser alguma coisa especial
depois que derrubar várias pessoas bacanas. E isso ele
vai continuar fazendo pelo resto da vida dele.
É mais ou menos como a estória da formiga que queria
deixar a cigarra passando frio do lado de fora.
E até que conseguiu por um tempo porque a cigarra
realmente passou um pouco de frio, mas logo
descolou um lugar quentinho para cantar e arrasou.
Escrito por Duilio Ferronato
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