segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Empada de galinha da Rosa (a melhor do mundo!)


Empada de galinha da Rosa
 (a melhor do mundo!)


A Rosa entrou para a minha família há exactamente sessenta anos e um mês,
 no dia em que fez dezassete anos. 
Era loira, branca, linda de morrer e muito, muito pobre. 
Chegou a casa das minhas quatro tias-avós (todas solteironas) para servir.
 Nesse tempo ser criada era um modo de vida, e a Rosa é a melhor criada 
do mundo. 
Aliás, ela ofende-se profundamente se lhe chamam empregada: "empregadas
 são estas brasileiras de agora, menina, que não sabem fazer nada, nem limpar,
 nem cozinhar, nem engomar uma camisa e não têm respeitos aos patrões! 
Eu cá sou uma criada e disso já não há!"


Quando a última das minhas tias-avós morreu, a Rosa passou uns anos na nossa casa, 
para deleite dos meus pais (o meu Pai pela gula e a minha Mãe pelo descanso), mas 
assim que a minha irmã mais velha anunciou que se ia casar, a Rosa participou
 imediatamente que ia para casa dela. 

E a Rosa faz o que quer, sempre fez, e ninguém se atreve sequer a discutir com ela. 
E foi, claro, para grande desgosto nosso. Ainda hoje a Paula diz que foi o melhor
 presente de casamento que teve.

 A Rosa criou o meu Pai e os meus tios, a mim e aos meus irmãos, e os meus 
sobrinhos todos. 
E diz para o Pedro se despachar (o mais velho e único com casamento no horizonte) 
porque ainda quer ir para casa dele criar a quarta geração. 
Tem 77 anos, feitos há um mês, mas está aí para as curvas.


Cozinha como ninguém. Passa a ferro como eu nunca vi. Faz rendas lindas de morrer 
(fez pelo menos metade do meu enxoval) e casaquinhos de bebé lindos, sempre azuis, 
cor-de-rosa ou brancos.

 E não dá uma receita sem aldrabar qualquer coisa, para preservar o património 
culinário da família.

 Mesmo a nós, não dá uma receita sem nos recomendar mil vezes que não é para dar 
a ninguém. Se ela sonhasse com este blog, eu estava bem tramada...


Esta receita, tirada a ferros, dá para dois pirex médios ou um muito grande:


Massa:

250g de banha
800/900g de farinha (é ir vendo)
2,5 dl do caldo do recheio morno
sal
2 gemas para pincelar


Recheio:

1 galinha das boas, aos bocados e sem pele
 (ou 2 embalagens de peitos de frango)
10 grãos de pimenta preta

100g de toucinho alto e branco
1 cebola cravada com uns 10 cravinhos
1 ramo de hortelã

4 raminhos de alecrim
1 raminho de cebolinho

2 c. sopa de vinagre
10 grãos de pimenta preta
sal


1 cebola picada
azeite para refogar
raspa de noz moscada

pimenta preta moída de fresco
sumo de 1/2 limão
1 cháv. do caldo da galinha

6/7 gemas
1 c. sopa de farinha
2 c. sopa de vinagre
sal

Põe-se a galinha (ou os peitos de frango) a cozer em água com a cebola,
 o vinagre, os temperos e sal. Escorre-se, coa-se o caldo e aproveitam-se
 2,5 dl para a massa.


Entretanto faz-se a massa: deita-se a farinha na pedra da mesa, abre-se um
 buraco e junta-se o caldo morno, a banha aos bocadinhos e o sal. 
Amassa-se, não muito, até ficar boa para tender. Descansa enquanto se acaba 
o recheio.


Num tacho grande refoga-se em azeite a cebola picada, mais a cebola que se 
usou no caldo, sem deixar alourar.

 Junta-se a carne desfiada e o toucinho picado que se usou no caldo, a noz 
moscada, a pimenta e o sumo de limão. 

Noutro tachinho deita-se a c. sopa de farinha, as 2 c. sopa de vinagre, 
1 chávena de caldo e as gemas batidas. 

Deixa-se engrossar e junta-se ao refogado de frango. Prova-se de sal.


Estende-se a massa, dividida em duas, e forra-se um pirex grande 
(ou dois médios). Junta-se o recheio e tapa-se com o resto da massa. 

Abre-se um buraco no meio (a chaminé) e decora-se com as sobras de massa
 (a Rosa costuma fazer uma trança de massa para pôr à volta e folhas recortadas.
 Pincela-se com as gemas batidas e assa-se em forno médio.

Dá trabalho, pois dá. Mas é a melhor empada de galinha do planeta!
http://umatuganostropicos.blogspot.com/

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